quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Grande XXXI JMJ inicia-se entre sinais contraditórios


O cardeal-arcebispo de Cracóvia Stanislaw Dziwisz presidiu, na tarde de hoje dia 26, no Parque de Blonia situado naquela cidade polaca, à celebração da missa de abertura da XXXI Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em cuja homilia se deteve no diálogo de Jesus ressuscitado com Simão Pedro nas margens do Lago de Tiberíades. Neste diálogo (Jo 21,15-19) Jesus perguntou três vezes a Pedro – mas sob o nome primevo e de família, Simão filho de João – se O amava. E, face à tríplice confissão de amor em resposta ao tríplice questionamento, Jesus confia ao apóstolo o encargo de apascentar os seus cordeiros, as suas ovelhas. Isto significa que Jesus pretende o amor total do discípulo com toda a sua personalidade (Simão), a sua origem (Filho de João) e o seu futuro (Pedro), como conditio sine qua non para lhe entregar uma tarefa, uma missão de grande responsabilidade: o apostolado, o pastoreio.
Hoje, Jesus não questiona apenas Simão Pedro e nas margens do Lago, mas todos os jovens que estão em Cracóvia, fisicamente ou in mente, nas margens do rio Vístula, que perpassa toda a Polónia desde os montes ao mar. E quere-os como cada um é, donde vem e como há de ser.
É em torno da experiência de fé e de amor da parte de Pedro que o purpurado suscita a reflexão dos jovens e de seus acompanhantes. Porém, em vez de colocar por três vezes a mesma pergunta, Stanislaw Dziwisz coloca três questões e motiva as respostas de cada um. E as perguntas são:
Donde viemos até chegar a este encontro? Onde estamos hoje, neste momento da nossa vida? E, a partir deste momento, em que direção colocaremos o resto da nossa vida ou o que é que vamos levar deste lugar?
Como resposta à 1.ª questão, o cardeal aponta  medos e desilusões, recordações e esperanças, e sobretudo o desejo de vida “num mundo mais humano mais fraterno e solidário”. Damos conta das nossas fraquezas, mas acreditamos que “tudo podemos naquele  que dá força”. À 2.ª, sugere como resposta o facto de Jesus, luz do mundo ter ali reunido os jovens à volta do Pedro dos nossos tempos, agora sob o nome de Francisco, como garantia da universalidade da fé católica. E, como não podia deixar de ser, em Ano da Misericórdia e na terra da Misericórdia – através de São João Paulo II e de Santa Irmã Faustina – acentuou o mistério da Divina Misericórdia. E como resposta à 3.ª questão, quer que, regressando aos seus países, casas e comunidades, levem a chama da misericórdia, lembrando a todos e a cada um: “bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. É efetivamente necessário levar a cada um dos outros a chama da fé e acender com ela outras chamas, para que os corações humanos batam no ritmo do Coração Misericordioso de Cristo, “fonte ardente de caridade”. Urge que a labareda do amor “envolva todo o nosso mundo, para que nele não haja mais egoísmo, violência e injustiça, e que na nossa terra se reforce a civilização do bem, da reconciliação, do amor e da paz”. 
Simão Pedro, fortalecido no Espírito Santo, mais do que “testemunha corajosa de Jesus Cristo”, tornou-se “a rocha da Igreja nascente”. E, nessa condição de pastor, pagou com a vida na capital do Império Romano, pregado na cruz como o seu Mestre, tal como Jesus predissera:
“Quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há de atar o cinto e levar para onde não queres” (Jo 21,18).
O sangue de Pedro tornou-se semente de fé e de crescimento da Igreja, que abraça toda a terra.
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O cardeal, que foi secretário do Papa polaco da Divina Misericórdia, assemelhou este encontro da pluralidade de geografias, etnias, culturas e línguas ao movimento do dia de Pentecostes, a inspirar atitudes e comportamentos individuais e coletivos por toda a parte em mais de dois milénios. E, de olhos postos no mundo de migrantes e refugiados a quem se abrem as portas da exploração e da miséria, mas se fecham as do acolhimento e integração ou regresso – ou os atentados cirúrgicos ou em massa, as perseguições, as desigualdades e o tráfico de pessoas –, evocou a Polónia mártir cuja história não foi fácil, mas cujos filhos procuraram “sempre permanecer  fiéis a Deus e ao Evangelho”.
Assegurando que quem segue Jesus “não caminhará nas trevas” (cf Jo 8,12), porque “Ele é o caminho, a verdade e a vida” (cf Jo 14,6; 6,68), garantiu que somente Ele “pode satisfazer os desejos mais profundos  do nosso coração”.  Ele, que “nos conduziu até aqui” está no meio de nós e “nos acompanha como aos discípulos  no caminho para Emaús” (cf LC 24,13-35).
É certo que este encontro “dura apenas alguns dias”. Mas, sendo uma experiência intensa de espiritualidade e catolicidade, “requer algum esforço”. E, ao regressarmos às “nossas casas, aos nossos entes queridos, às escolas, universidades e locais de trabalho”, teremos propósitos significativos, novos objetivos na vida e talvez o convite claro de Jesus como a Simão Pedro: “Tu, segue-me” (Jo 21,22). É claro que o prelado de Cracóvia acha melhor não antecipar uma resposta definitiva àquela terceira das questões acima enunciadas. Sugere, antes, que aceitem o desafio, partilhando nestes dias o que têm de mais precioso: a fé, as experiências, as esperanças. Sugere que modelem agora os pensamentos e os corações. Apela a que escutem as catequeses dos bispos, “escutem a voz do Papa Francisco, participem com emoção na santa liturgia, experimentem o amor misericordioso do Senhor no sacramento da reconciliação”. Além disso, pede que tomem conhecimento “das igrejas de Cracóvia, da riqueza da cultura desta cidade, bem como da hospitalidade dos seus habitantes e das outras localidades próximas, onde encontrarão repouso depois das fadigas do dia”. E citando o profeta Isaías, que fala dos “pés cheios de encanto do mensageiro da boa nova” (cf Is 52,7), evoca João Paulo II como mensageiro da paz, iniciador das Jornadas Mundiais da Juventude, amigo dos jovens e das famílias. E, a seu exemplo quer que os jovens sejam mensageiros da paz, portadores da boa nova de Jesus Cristo, testemunhas de que vale a pena confiar a Ele o nosso destino e o que devemos fazer. Enfim, recomenda vivamente que “escancarem as portas dos seus corações a Cristo” e que anunciem com convicção, como Paulo, que “nem a morte, nem a vida [...], nem nenhuma outra criatura, poderá separar-nos do amor de Deus, em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8,38-39).
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O dia inaugural da XXXI JMJ surge na ressaca dum ataque em Nice, dum ataque no Afeganistão, na proximidade dum atentado em Munique, dum massacre num centro de deficientes no Japão, do baleamento dum médico num Hospital de Berlim e hoje no sequestro e decapitação dum sacerdote de 84 anos que estava acompanhado de alguns participantes (cinco) na missa numa igreja em Sant-Etienne-du-Rouvray, na Normandia, que foram feitos reféns e de que morreu um. Parece que o mundo está podre de ódio ou caduco de doidice.
Porém, o arcebispo de Rouen, Dominique Lebrun, presente em Cracóvia para a JMJ, fez saber:
“De Cracóvia soube da matança ocorrida esta manhã na Igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray. As três vítimas: o sacerdote, Padre Jacques Hamel, de 84 anos, e os autores do assassinato. Três outras pessoas ficaram feridas,  sendo uma delas gravemente. Eu clamo a Deus com todos os homens de boa vontade. Convido os não-crentes para participarem deste clamor! Com os jovens da JMJ, nós rezamos como rezávamos junto ao túmulo do Padre Popielusko, em Varsóvia, assassinado durante o regime comunista”.

Referindo que o Vigário Geral, Padre Philippe Maheut, chegara ao local pouco depois do ataque, o arcebispo, selecionando as armas da oração e da fraternidade, prometeu regressar de imediato à Normandia:
“Eu estarei na noite de hoje na minha Diocese junto das famílias e da comunidade paroquial que está chocada. A Igreja Católica não pode usar outras armas que a oração e a fraternidade entre os homens. Eu deixo aqui centenas de jovens que são o futuro da humanidade, é verdade. Peço-lhes para não ceder à violência e se tornarem apóstolos da civilização do amor”.
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E, enquanto se registam na JMJ presenças de jovens extraordinárias – como: “quase 700 jovens da Terra Santa” e 17 jovens birmaneses acompanhados por 4 sacerdotes” – referem-se três factos: crianças com cancro rezam pela JMJ e convidam o Papa; a fundação AIS lançou uma campanha denominada “Let’s Be One” (Sejamos um); e jovens cubanos, que não podem ir a Cracóvia fazem a sua JMJ.

- A ONG Peter Pan convidou o Papa a participar, com crianças e adolescentes com cancro, numa oração no dia 27 de julho, às 8,45 horas, antes de partir para Cracóvia, diante do túmulo de São João Paulo II. Pede-lhe também que leve consigo à JMJ as orações destas famílias e que as una às dos jovens participantes no evento, a fim de que, por intercessão de São João Paulo II, os pequenos reencontrem a saúde. Todas as manhãs, a partir de 27, o padre polaco Jarek Cielecki presidirá à oração no Vaticano e serão acesas 2 velas com as imagens de Jesus Misericordioso e de João Paulo II. 

- A AIS sensibiliza os peregrinos que estão na Polónia para a existência de muitos, oriundos de diversos países, não estão presentes na JMJ por diversas razões, entre as quais, a perseguição religiosa. Nesta campanha, difundida sobretudo pelas redes sociais, há vários filmes curtos, em que jovens explicam as razões por que não vão à Polónia, mas garantem que estarão “todos juntos em oração” com os participantes. E, se alguns não conseguiram viajar por questões económicas, outros houve que decidiram ficar nos seus países para prosseguirem o trabalho que não pode ser interrompido. Além dos pequenos filmes, os participantes na JMJ vão assistir a um musical, “Por causa do meu Nome”, dedicado aos cristãos perseguidos.
- Uma JMJ em miniatura (1400 jovens), com o Mar do Caribe como panorama, realizar-se-á, em Havana, de 28 a 31. Participam os jovens cubanos que por várias razões não podem estar presentes na JMJ em Cracóvia, que por carta partilharam com o Papa a ideia desta experiência:
“Na JMJ do Rio de Janeiro, convidou-nos a voltar às nossas dioceses e fazer barulho. Disse-nos que esperava que esse barulho se tornasse o fruto dessa Jornada. Em Havana, exortou-nos a sonhar, e a sonhar coisas grandes. Levamos a sério estes convites. Sonhamos alto e estamos preparando um grande barulho”.
E prosseguem os jovens:
“No mesmo período da JMJ de Cracóvia preparamos uma Jornada em Havana, com os mesmos esquemas e temas. Usaremos o nome da JMJ porque não queremos que seja um evento somente nosso, mas queremos daqui estar em comunhão com o senhor [o Papa] e todos os jovens que se reunirão em Cracóvia. (…). Não nos resignamos diante das dificuldades económicas que nos impedem ir numerosos a Cracóvia, que nos impedem de viver esta experiência.”.
Serão feitas catequeses e momentos comuns, uma Via-Sacra e a passagem pela porta santa.
Oxalá que todo o bem arrede de vez o mal que tenta sobrepor-se-lhe!

2016.07.26 – Louro de Carvalho

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