sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Coreia do Norte e EUA divergem e as consequências são imprevisíveis

Ontem, dia 21 de setembro, Donald Trump anunciou novo conjunto de medidas contra o regime norte-coreano, entre as quais sobressaem as ordens emanadas da Casa Branca a várias instituições financeiras para acabarem com ligações à Coreia do Norte.
Segundo a agência Reuters, estas sanções “não têm como alvo o petróleo”, pelo menos diretamente. Ao invés, visam pedir às empresas e outras instituições financeiras que terminem quaisquer negócios com o país. A este respeito, o Presidente dos EUA afirmou, numa reunião com o Presidente afegão, Ashraf Ghani, em Nova Iorque que iria “aplicar mais sanções à Coreia do Norte”, declarando que “as novas sanções vão cortar as receitas que financiam a Coreia do Norte para criar e desenvolver as armas mais mortíferas conhecidas pelo homem”. E revelou que também o Banco Nacional chinês ordenara a outras instituições financeiras que terminassem todas as ligações económicas com o regime norte-coreano.
Na verdade, a tensão entre os EUA e a Coreia do Norte intensificou-se nas últimas semanas, após os últimos lançamentos de misseis balísticos por parte do regime de Pyongyang. E os vários líderes internacionais têm apelado, em várias reuniões, a um acordo pacífico e através do diálogo, recusando a via de intervenção militar.
Ainda ontem se realizou a esperada conferência de imprensa em que interveio o Secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, e também a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley.
Já no dia 19, Trump prometera, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, “destruir totalmente” a Coreia do Norte se se sentisse ameaçado. Ao que o Ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, Ri Yong-ho, reagiu, também na mesma sessão da ONU, onde disse:
Há um ditado que diz que quando os cães ladram, a caravana passa. Se Trump pensa que nos surpreende com o som de um cão a ladrar, então está a sonhar.”.
Por seu turno, o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, instou a comunidade internacional a aumentar a pressão sobre Pyongyang, sublinhando também, na Assembleia Geral da ONU, a necessidade de agir com cautela para evitar um conflito armado. E mostrou total apoio a um agravamento de sanções a aplicar ao regime norte-coreano, até que o país “renuncie ao seu programa nuclear”, e apontou a necessidade de uma resolução pacífica “de diálogo” (Resta saber se o regime de sanções é de diálogo e se é pacífico). Por outro lado, defendeu que essa questão deve ser gerida “de modo estável”, mas insiste no abandono imediato daquilo que denomina de “escolhas imprudentes” que “podem levar ao seu isolamento e queda”.
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Hoje, dia 22, o Ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano revelou que o seu país poderá lançar, como forma de teste, uma bomba nuclear de hidrogénio para o oceano Pacífico, como parte da “resposta ao mais alto nível” contra os EUA. E disse aos órgãos de comunicação sul-coreanos no hotel em Nova Iorque, onde se encontra para participar na 72.ª Assembleia Geral da ONU, que “poderá tratar-se da mais poderosa das detonações de uma bomba H no Pacífico”.
Ri Yong-ho respondia assim a uma questão sobre a mensagem do líder Kim Jong-un que, em declarações recolhidas um pouco antes pelos ‘media’ norte-coreanos, advertiu o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que iria pagar bem caro pelo seu “excêntrico” discurso ante a ONU, no qual ameaçou destruir totalmente a Coreia do Norte – o que, diga-se em abono da verdade, não constitui uma forma decente de encarar as relações entre Estados soberanos.
O líder norte-coreano rotulou Trump de um “criminoso e um gangster que gosta de brincar com o fogo”, frisando que o Presidente dos Estados Unidos é “impróprio para manter o comando supremo de um país” (terá nisso razão) e que “vai pagar caro” as ameaças que tem feito contra o seu país (o que não resolve o problema). E, de acordo com a agência estatal norte-coreana KCNA, prometeu: “Farei com que o homem à frente do comando supremo nos Estados Unidos da América pague caro pelo seu discurso a pedir a destruição total da Coreia do Norte”.
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Depois de o líder norte-coreano ter acusado o Presidente dos EUA de estar “mentalmente perturbado” e ser um “criminosos e um gangster”, Donal Trump não se ficou e descreveu-o como um “doido que não se importa de matar à fome ou assassinar o seu povo”. E, através do Twitter, prometeu que o norte-coreano “vai ser testado como nunca foi antes”.
Assim, continua a troca de insultos entre dois homens senhores do seu nariz e que pretendem também ser senhores do nariz dos outros e manobrar os seus povos e os de outrem a seu bel-prazer. E diga-se que os líderes dos Estados deveriam, do meu ponto de vista, abster-se de utilizar as redes sociais, onde se dizem ou escrevem coisas currente calamo, sem a maturidade de suficiente ponderação.
Porém, não se ficam nos insultos mútuos. Atrevem-se a pôr em causa o interesse dos povos que lideram, a defesa do território, a segurança das pessoas e o bem-estar das populações. Reféns dos ditames ideológicos, das ambições pessoais e da tentação da supremacia e alheios da realidade, provocam o choque diplomático com passagem perigosa ao confronto bélico. E deixam o mundo à beira da pulverização. E, se os povos não tiverem a paciência da educação para a paz, se quiserem asfixiar os demais pela razia étnica e pela destruição massiva da biosfera e da ecosfera, facilmente os conflitos regionais se alargam e aprofundam até ganharem dimensão mundial imparável. E a III Guerra Mundial facilmente deixará de se fazer em pedaços e assumirá o seu caráter holístico e demolidor.
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Perante as experiências balísticas e atómicas norte-coreanas, a Coreia do Sul responde com a simulação de ataques à Coreia do Norte. E a península coreana está em situação explosiva. Os EUA respondem à letra aos insultos e ameaças do regime de Pyongyang. A China e a Rússia taticamente recomendam a diplomacia e o diálogo – até quando? As alianças por interesse são uma verdadeira tentação diplomática e/ou bélica.
Mas o Governo do Japão diz “estar preparado” para enfrentar a ameaça da Coreia do Norte de lançar uma bomba de hidrogénio para o Oceano Pacífico, em resposta ao discurso do Presidente norte-americano, Donald Trump.
Yoshihide Suga, o ministro porta-voz do Executivo japonês, assegurou que o Japão “está preparado para esta situação”, já que as autoridades estão “a vigiar com cautela” e classificou de “inaceitável” a ameaça do regime norte-coreano. Segundo referiu em conferência de imprensa, “o Japão fará todos os esforços necessários para proteger a segurança do povo japonês”.
O lançamento, como teste, de bomba de hidrogénio para o Pacífico, de que falou o Ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, deve entender-se como parte da “resposta ao mais alto nível” com que Kim Jong-un alertou os EUA. Ri Yong-ho disse aos meios de comunicação sul-coreanos no hotel em Nova Iorque, onde se encontra para participar na Assembleia Geral da ONU, poder tratar-se da mais poderosa detonação de uma bomba H no Pacífico”.
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Também o Presidente do Irão disse hoje, dia 22, durante um desfile comemorativo do início da guerra com o Iraque em 1980, que o seu país vai reforçar as capacidades militares e balísticas, apesar das críticas dos EUA e da França. A este respeito, Hassan Rohani disse, num discurso transmitido em direto pela televisão:
“Quer queiram quer não, vamos reforçar as nossas capacidades militares, necessárias em termos de dissuasão. Vamos desenvolver os nossos mísseis e também as nossas forças aérea, terrestre e marítima. Para defender a nossa pátria não vamos pedir autorização a ninguém.”.
Na verdade, o Irão desenvolveu um vasto programa balístico nos últimos anos, que tem levado os Estados Unidos, mas também a Arábia Saudita, o principal rival na região, e alguns países europeus como a França, ou ainda Israel, a manifestarem a sua preocupação. Porém, o regime de Teerão sempre afirmou que o programa balístico é apenas defensivo, reiterando Rohani, que o seu poder “não foi realizado para agredir outros países”.
Tais declarações do líder iraniano vêm na sequência da denúncia do acordo nuclear concluído em 2015 com o Irão, assim como do programa balístico, feita pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, durante a presente Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.
Num tom mais moderado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, em uníssono com outros países europeus, sustentou a aplicação do acordo nuclear entre o Irão e as grandes potências, mas considerou que o pacto não é suficiente e que é preciso obrigar Teerão a reduzir o programa balístico e a limitar as atividades na região.
Hassan Rohani, rejeitando qualquer alteração da posição política do Irão na região, disse:
“Quer queiram quer não, vamos defender os povos oprimidos do Iémen, da Palestina e da Síria”.
Recorde-se que o Irão apoia o regime sírio, bem como os grupos extremistas palestinianos e os rebeldes ‘huthis’ no Iémen.
Assim, as forças armadas iranianas mostraram um novo míssil balístico com um alcance de 2000 quilómetros durante um desfile militar em Teerão, apesar das já aludidas advertências dos Estados Unidos e de outros países contra o programa de armamento do Irão.
O míssil, designado por Jorramshahr, é capaz de transportar múltiplas ogivas, segundo o general de brigada Amir Ali Hayizadeh, citado pela televisão estatal.
Comandante da divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, força de elite do regime iraniano, Hayizadeh disse que o míssil é de “um tamanho mais pequeno e tático e estará operacional num futuro próximo”.
Tal exibição corresponde ao discurso de reforço das capacidades militares e balísticas feito pelo Presidente iraniano durante o predito desfile militar comemorativo do início da guerra com o Iraque em 1980.
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Até quando esticáramos líderes mundiais esticarão a corda dos insultos, experiências e ameaças balísticas e nucleares? Descambaremos para uma nova guerra mundial que ninguém sabe como será, mas apenas que será pior que as anteriores? Mereceremos o prémio pelo esforço de paz? Teremos que implorar o auxílio divino porque os homens não merecem a nossa confiança?  

2017.09.22 – Louro de Carvalho

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