domingo, 10 de dezembro de 2017

A ajuda de Maria a desenvolver anticorpos contra os vírus do nosso tempo

“Maria Imaculada,
pela quinta vez venho aos vossos pés como Bispo de Roma,
para fazer-vos uma homenagem em nome de todos os habitantes desta cidade.
Quero agradecer-vos pelo cuidado constante
com que acompanhais o nosso caminho,
o caminho das famílias, das paróquias, das comunidades religiosas;
o caminho daqueles que todos os dias, e com muito esforço,
atravessam a cidade de Roma para trabalhar,
o caminho dos doentes, idosos e todos os pobres,
o caminho dos imigrantes aqui, provenientes de terras de guerra e fome.
Obrigado, porque assim que vos dirigimos um pensamento,
um olhar ou uma Ave Maria fugaz,
sentimos sempre a vossa presença materna, carinhosa e forte.”.
“Ó Mãe, ajudai esta cidade a desenvolver os anticorpos
contra alguns vírus dos nossos tempos:
a indiferença, que diz: “Não me interessa”;
a má educação cívica que despreza o bem comum;
o medo do diferente e do estrangeiro;
o conformismo disfarçado de transgressão;
a hipocrisia de acusar os outros, enquanto se fazem as mesmas coisas;
a resignação à degradação ambiental e ética,
a exploração de muitos homens e mulheres.
Ajudai-nos a rejeitar estes e outros vírus
com os anticorpos que vêm do Evangelho.
Fazei com que tenhamos o bom costume
de ler todos os dias uma passagem do Evangelho
e sob o vosso exemplo, proteger no coração a Palavra,
para que, como uma boa semente, dê fruto em nossa vida.”.
“Virgem Imaculada,
cento e setenta e cinco anos atrás, pouco distante daqui,
na igreja de Sant’Andrea delle Fratte,
vós tocastes o coração de Afonso de Ratisbonne, que naquele momento
de ateu e inimigo da Igreja se tornou cristão.
Vós vos mostrastes a ele como Mãe da graça e da misericórdia.
Concedei também a nós, especialmente na provação e na tentação,
manter o olhar fixo em vossas mãos abertas,
que deixam cair sobre a terra as graças do Senhor,
e nos despojar da arrogância orgulhosa
para nos reconhecermos como realmente somos:
pequenos e pobres pecadores, mas sempre vossos filhos.
E assim, pegando em vossas mãos,
nos deixar reconduzir a Jesus, nosso irmão e salvador,
e ao Pai celeste, que nunca se cansa de nos esperar
e nos perdoar quando retornamos a Ele.”.
“Obrigado, ó Mãe, por nos ouvir sempre!
Abençoai a Igreja aqui em Roma,
e abençoai também esta cidade e o mundo inteiro”.
Amen.
***
Na tarde do dia 8 de dezembro, dia da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, o Papa Francisco, cumprindo um hábito que vem desde o tempo de Pio XII – que foi o primeiro a enviar flores à Praça de Espanha na Solenidade da Imaculada –, foi a esta Praça, localizada no centro de Roma, para rezar aos pés do monumento à Imaculada, a Ela dedicado e construído na Praça Mignanelli, próximo à Praça de Espanha, renovando o tradicional ato de homenagem à Virgem Maria. E pronunciou a oração acima transcrita (tradução da Rádio Vaticano).
Esta imagem de Nossa Senhora é obra do escultor Giuseppe Obici e está no alto da coluna projetada pelo arquiteto Luigi Poletti.
Pio XII, em 1953, foi o primeiro Pontífice, como se disse, a prestar esta homenagem, dando assim início a esta tradição que perdura desde então.
Acolhido na Praça de Espanha por volta das 16 horas  pelo Arcebispo Angelo De Donatis, Vigário Geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma, o Papa caminhou até ao monumento onde rezou e depositou flores.
No final da cerimónia, Francisco fez uma visita privada à Basílica paroquial de “Sant’Andrea delle Fratte”, para rezar diante da efígie de Nossa Senhora do Milagre, no 175.º aniversário da aparição a Alfonso Ratisbonne.
Também diversas organizações fizeram sua homenagem a Maria Imaculada, a começar, como reza a tradição, pelos bombeiros, que com a colocação duma coroa de flores no alto do monumento às 7,30 horas, recordaram os 220 colegas que a 8 de dezembro de 1857 inauguraram o monumento.
Ao longo de todo o dia, diversas fraternidades e associações, religiosas e leigas, se revezaram para prestar a sua homenagem com procissões provenientes de diversas partes, momentos de oração e caminhadas acompanhadas por bandas de música.
Entre estes grupos, os Cavaleiros e Damas da Ordem do Santo Sepulcro, a Ordem de Malta, os Frades Menores Conventuais, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, Grupos de Oração do Padre Pio, a Legião de Maria, a Cruz Vermelha, estudantes e populares. Também trabalhadores de diversas empresas romanas, guiados pelo capelão Oliviero Pellicccioni, fizeram uma caminhada que culminou com uma oração de consagração à Imaculada.
***
O tom da oração papal é de prece impetratória e de gratidão. E o texto espelha as preocupações do Pontífice pelos problemas que afligem o mundo e a atenção que ele tem ao pensamento e aos gestos da Virgem Mãe.
O Papa homenageou a Virgem em nome de todos os habitantes da cidade de Roma. E agradeceu a solicitude com que Maria acompanha o percurso de todos, em especial, o das famílias das paróquias, das comunidades religiosas, dos que diariamente e com muito esforço atravessam a cidade para o trabalho, dos doentes, dos idosos, de todos os pobres, dos imigrantes provenientes de terras de guerra e de fome, sendo a leal peregrina com todos os que peregrinam, mesmo aos tropeções. Agradeceu por todas as vezes que pensamos em Maria ou Lhe dirigimos uma simples Ave Maria e ela nos mima com a sua “presença materna, carinhosa e forte”.
E Francisco pede expressamente a ajuda da Mãe contra o que chama os vírus do nosso tempo: a indiferença do “Não me interessa”; a má educação cívica que despreza o bem comum; o medo do diferente e do estrangeiro; o conformismo; a hipocrisia de acusar os outros do que nós mesmos fazemos; a resignação à degradação ambiental e ética; a exploração de muitos homens e mulheres. Contra estes vírus o Papa pretende a ajuda de Maria para desenvolvermos os necessários anticorpos, que vêm do Evangelho, e quer que tenhamos o costume de ler todos os dias uma sua passagem e, sob o exemplo da Virgem fiel, saibamos “proteger no coração a Palavra, para que, como uma boa semente, dê fruto em nossa vida”.
Fez referência explícita à conversão de Afonso de Ratisbonne, tocado pela mão da Virgem na igreja de Sant’Andrea delle Fratte. E, reconhecendo que Ela Se mostrou a ele como Mãe da graça e da misericórdia, pediu-lhe que nos ensine e ajude, “especialmente na provação e na tentação”, a “manter o olhar fixo” nas mãos abertas de Maria, “que deixam cair sobre a terra as graças do Senhor”, e a “nos despojar da arrogância orgulhosa para nos reconhecermos como realmente somos: pequenos e pobres pecadores, mas sempre vossos filhos”.
Depois, salienta o fundamental da devoção mariana: pegando em suas mãos, deixarmo-nos “reconduzir a Jesus, nosso irmão e salvador, e ao Pai celeste, que nunca se cansa de nos esperar e nos perdoar quando retornamos a Ele”.
Finalmente, colocando plena confiança na Mãe, o Papa agradece mais uma vez porque Ela nos ouve sempre e pede que abençoe a Igreja de Roma, a cidade e o mundo.
***
Não podemos deixar de considerar esta oração como um modelo de oração mariana, preocupada com o próximo, de que está ausente qualquer forma de egoísmo e que coloca no sítio a devoção mariana, tantas vezes desfigurada.
É a prece confiante e agradecida daquele que, na recitação do Angelus, porfiava contemplar a beleza de Maria Imaculada e, imerso no Evangelho da Anunciação, pretende festejar o mistério replicando a saudação do Anjo, que se dirige à Virgem, não lhe chamando Maria, mas com uma expressão de não fácil tradução: “cumulada de graça”, “criada pela graça”, “cheia de graça”. Na verdade. Maria está repleta da presença de Deus e, porque inteiramente habitada por Deus, não morou nem mora nela o pecado – coisa admirável num mundo contaminado pelo mal.
Isto exige da nossa parte, que somos pecadores, que, olhando para este “oásis entre verde” da humanidade, nos afeiçoemos à graça, adiramos à história nova inaugurada em Maria. Reconhecendo-A cheia de graça, entendemos a razão por que é Ela sempre jovem. Com efeito não é a idade que envelhece, mas o pecado; é o pecado que esclerotiza o coração e o torna inerte. Maria é, pois, a pessoa mais jovem do género humano, a mais bela, a excelsa. E o segredo da sua beleza é a Palavra que Ela lia e escutava, guardava e servia, cumprindo totalmente a vontade do Pai. A vontade do Pai era o seu paraíso, mesmo no turbilhão das muitas tribulações. Com efeito, depois que o anjo se afastou, os problemas aumentaram, mas a Virgem não desfaleceu, não teve medo, não desistiu.
E, sobretudo, está sempre disponível para o desígnio de Deus, para amparo do povo de Deus e para rogar por nós.
É a mesma a quem Francisco homenageou na Praça de Espanha com flores e oração, agradecendo e pedindo, confiando à sua ternura de Mãe as preocupações com a Igreja e com o Mundo e sentindo na vida da Igreja e dos crentes – e até dos pecadores – o toque materno da compaixão e da graça eficaz.

2017.12.09 – Louro de Carvalho

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